abril 05, 2020

Corona Vírus, historiadora em modo blogger ou vice-versa

 Corona Vírus, essa pandemia do século XXI que nos deixou as vidas em suspenso

Todos os desafios diários, os horários prolongados, a falta de tempo, ou o tempo a mais no trânsito, os fins de semana que voam, tudo isso ficou de repente suspenso, como que em pausa, devido ao perigo invisível de um possível contágio, do medo da propagação de um vírus que infecta e afecta já grande parte do mundo conhecido, daí estarmos perante uma pandemia (do grego pan - "todos" + demos, "povo").


A 19 de Março de 2020 foi decretado o estado de emergência, suspendendo, com ele também algumas liberdades consagradas na constituição da república, é, contudo uma questão complicada de avaliar nesta fase, sobretudo devido aos exemplos de Itália e de Espanha, que nos invadem diariamente, a qualquer hora do dia ou da noite em que haja notícias na TV... Será que conseguimos aprender e antecipar alguns cenários mais catastróficos com estes números descontrolados e desoladores destes dois países tão próximos, tão reais e com os quais temos tantas afinidades...?!

Números, números e mais números, até na doença, na tragédia continuamos sempre a ser números, número de infectados, número de mortos, número de recuperados, número de hospitalizados, número de ventiladores, números, e mais números, estatísticas, médias e medianas, que valem o que valem. Todos aqueles que perdem vidas, ou aqueles que perdem familiares para esta pandemia, não querem saber dos números mais ou menos animadores...

Tenho consciência que estamos a viver um daqueles momentos históricos, como estudamos a Peste Negra, ou a Pneumónica, ou, ainda que de outra natureza, as Guerras Mundiais, estudamos números e estimativas de números, estimamos o número de vítimas que padeceram entre o ano X e o ano Y e estudamos ainda as consequências sociais, económicas e sobretudo as culturais e de mentalidades.

Em história sabemos que ciclicamente há eventos, há crises, que abalam o stato quo de então, e estudamos os contextos e interpretamos dados, ou seja fazemos historiografia. Agora, bem, agora somos completamente impotentes nesse sentido, somos apenas meros actores nesta crise de saúde mundial.

Apesar de ser algo assustador o facto de termos consciência que estamos a testemunhar um momento histórico não nos deixa indiferentes, percebemos a grandiosidade e urgência da situação e sabemos que de um lado ou do outro iremos fazer parte dos números, ou de infectados, ou de mortos ou dos que escaparam à pandemia.

Face a tudo isto pensar na minha situação individual parece-me quase egoísta, como alguém dizia há dias, eu tenho a sorte de pertencer ao grupo que tem o privilégio de estar em isolamento, em tele-trabalho,ou seja a modalidade que for.

Penso nos que continuam a trabalhar diariamente, e está longe de serem apenas os médicos e os enfermeiros, penso nos que não têm casa, penso nos que já tinham dificuldade em sobreviver por tantos outros motivos, penso muito naqueles que padecem de outras maleitas, enfim, a realidade é sempre tão diversificada, daí o perigo de generalizações e de maiorias... mas por outro lado, e como canta Sérgio Godinho: " A Democracia é o pior de todos os sistemas /Com excepção de todos os outros", por isso mesmo foi renovado o estado de emergência até 17 de Abril de 2020.

Vamos pois continuar, por agora, em casa, obedientemente em casa, em distanciamento físico, testemunhando este momento histórico.

 5 de Abril de 2020.

janeiro 05, 2017

Ligações



Em meados dos anos sessenta, a região [Algarve] foi contemplada com um aeroporto, o que iria trazer um benefício inquestionável, mas a par disso, inexplicavelmente, o desinteresse pela linha ferroviária tornou-a intransitável. (…) Até há pouco tempo, o Algarve permaneceu sem estradas capazes na ligação a Lisboa e a Espanha, e continuou sem infra-estruturas dignas, quando não mesmo inexistentes.


in: Contrato Sentimental, Lídia Jorge – Sextante Editora, 2009

janeiro 04, 2017

Para um amigo...


Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.




António Ramos Rosa, in "Viagem Através de uma Nebulosa"